Sigo-me antes de nascer, sou muito mais que uma memória, Monumento granítico de carne erguido fundo nos céus, deslizando pensamentos em espirais de fumo ascendente.
lembro-me de mim... demónio de mim mesmo, grande como todo o universo, fazendo as próprias estruturas do pensamento divino ceder. Demónio de mim, rasgando a minha própria pele em delírios e febres sobre a fina lamina do julgamento.
E ardia alto o fogo, a chama que nos provava o corpo e lambia os olhos e as feridas, os incandescentes braços paternos que nos levaram a contemplar, bem alto, o fundo do abismo.
Eis! O vibrante murmurar da noite eterna, fragmentos de dor colidindo contra a superfície sagrada do meu corpo. A etérea matéria fundindo-se compacta no meu ser.
Eis! De asas bem abertas, o vazio, os espaços entre os espaços, a suprema ausência.
Eis! Os olhos do Ouroboros, torre no topo da queda, a luz que me fez seguir a minha sombra até aqui.
Sigo-me antes de nascer e escolhi cair para me erguer.