Neste mundo, perdi tudo o que tinha O corpo e a alma radiosa O futuro distante que s’ avizinha, Tem na sua alçada a tragédia venenosa Que nela o luto provinha, Quando aprofundei a perda dolorosa
Penso na Morte, na sua essência sofredora E em toda esta amargura e tristeza avassaladora
Vou andando constantemente Recordando a amarga saudade Alada a um desejo de abafar o insidioso presente É a dor culminada da eternidade Que o meu âmago sente Por ele somente rogo por piedade
O imaculado espírito azulou-se Nada mais resta que recordações sombrias e de breu
Nós os vivos, choramos Pelos Mortos que lembramos É um sofrer que aperta no coração Mesmo na presença da absolvição
Omito a mágoa, fico inerte de tudo Presenciar o ciclo da dor, Viver no calado e sofrer mudo Penar defronte ao desaire do amor Rezo pela redenção do meu fado, contudo, Não chega para varrer do peito este meu ardor
Nós os vivos, sofremos Pelos que outrora conhecemos
Não basta a tristeza em mim despojada, Senão também a dor da minha alma usada Voam as lembranças de mim Encantam-se as vielas do cemitério A chuva cai, e nela as memórias se esvaem sem fim, Face à vassalagem daquele momento etéreo