Pelo que vejo És um marujo da banheira E antevejo Um bárbaro e vil desfecho Mal te abram a torneira Já se vislumbra uma desgraça
No teu desejo De ter a maior traineira Talvez te tapes E uma onda ainda te mande Contra o esmalte da banheira Ou contra um pato de borracha
Eu também já desbravei ondas dos sete mares E fui comandante de uma frota de alguidares Mas a solidão e alguma desilusão Cantam-me assim
Faz-te falta um faroleiro Que te afaste a luz dos olhos Que te aponte para os molhes Que há tanta ilusão na vida Por te ouvir tantas cantigas Já deixei de acreditar
Tu vai lá contra os patinhos Que eu remo este alguidar
Pelo que vejo Pelo peixe que pescaste Deste tamanho Encolheu ou foi mirrando Ou dissolveu-se no balde Ou nunca houve peixe nenhum
E caldeirada de batatas e cebolas Foi cozinhada sem cebolas nem batatas Nem um tacho para lá pô-las Que não te faltem latas de atum
Já fui embalada Pelo canto da sereia Levei-a para casa Fiz filetes e papei-a Será digestão, consciência ou razão Que eu oiço em mim
Faz-te falta um faroleiro Que te afaste a luz dos olhos Que te aponte para os molhes Que há tanta ilusão na vida Por te ouvir tantas cantigas Já deixei de acreditar
Tu vai lá contra os patinhos Que eu remo este alguidar