O lobo andava no mato e o mocho estava em cima de um pinheiro no ninho. O lobo enroscou o rabo no pinheiro como quem o queria serrar. O mocho de cima disse-lhe: — ó compadre, não me serres o pinheiro, senão os meus filhos caem abaixo e morrem. Responde o lobo: — Pois se não queres que eu serre o pinheiro, anda tu cá abaixo. O mocho não queria, mas afinal sempre veio vindo de galho em galho, e depois disse para o lobo: Lobo, o que queres de mim? O lobo respondeu: Anda cá mais abaixo, que quero dizer-te um recado. O mocho respondeu: Diz daí, que eu ouço bem. O lobo tornou a dizer: Anda cá, que eu não te faço mal. O mocho descuidou-se e desceu, e o lobo passou-lhe os dentes e meteu-o na boca. O mocho de dentro da boca do lobo disse: — Eh! Compadre, não me comas, que eu quero fazer testamento! O lobo disse-lhe: — Não, mas agora no galheiro estás tu. Diz o mocho: — Então deixa-me ir despedir-me lá acima da árvore dos meus filhos. O lobo disse: — Não, que, depois, nunca mais voltavas. Disse então o mocho: — Olha, ao menos hás-de dizer três vezes, que é para eles saberem: Mocho comi. O lobo disse muito baixinho, para não abrir a boca: Mocho comi. O mocho disse-lhe: — ó compadre, fala mais alto, senão não ouvem. O lobo tornou a repetir: Mocho comi, já mais alto. Responde o mocho: — Mais alto, senão eles não ouvem. Nisto o lobo escachou a boca para gritar mais alto e dizer: Mocho comi. O mocho, mal apanhou a boca aberta, abalou para cima do pinheiro e disse-lhe: — Outro sim, que não a mim.