Na primeira vez em que apareceu sozinho os amigos repetiram a cansada malícia: - Então, solteiro, hein! Mas ele sorriu enigmático. Durante uma semana, viveu venturoso como un rei. Sentia-se dono de um poder extraordinário e não queria gasta-lo. Podia chegar tarde, levantar-se a qualquer hora, jogar cinza no tapete, ouvir a vitrola no máximo, bebericar com os amigos depois do trabalho, tudo...
Funcionou durante uma semana essa tranqüilidade régia. Depois, as providências tomadas pela mulher começaram a falhar. A geladeira esvaziou e começou a pingar água. Deu dinheiro à empregada para comprar novas provisoes, e ela abarrotou a casa com um desperdício de alimentos. As frutas apodreciam. O jornaliero, por falta de pagamento, deixou de levar-lhe os jornais. O telefone, também por falta de pagamento, foi cortado. Uma velhinha, que vendia biscoitos, levou a manhã inteira conversando com ele. Cúmulo do azar,a empregada desapareceu. Teria morrido atropelada? Teria levado as jóias? Não havia ninguém para atender a porta. Não tinha camisa limpa, a tinturaria não trazia o seu terno. Foi fazer café e queimou a mão. Doido de fome, quis fritar um pedaço de lingüiça e o fogão explodiu.
Seu reinado foi entrando rapidamente no crepúsculo. Estava feroz entre as coisas que se desmantelavam.
Outro dia, finalmente, acordou cercado de água por todos os lados. Tinha na véspera deixado a torneira aberta, caso a água chegasse enquanto dormia.
Trocou de roupa. meteu os pés na água, contratou com o garagista a drenagem da casa, bateu apressado para a primeira agência de Correios e Telégrafos: "Morto de saudade volte o mais breve possível ponto beijos".