Olhas p'ra mim com esse ar reservado A estoirar pelas costuras Nem sei se estou em Lisboa Será que é Tóquio ou Berlim? Tu não me olhes assim! Porque o teu olhar tem ópio Tem quebras nos equinócios Pitadas de gergelim
Mas se isto é fado Ponho o gergelim de lado Vou buscar o alecrim E tu sempre a olhar p'ra mim; Como se alecrim aos molhos Atraíssem os teus olhos Não tenho nada com isso Alguém que quebre este enguiço Que eu não respondo por mim
E já estou, quase a trocar o mal pelo bem e o bem pelo mal Se isto é fado, não é um fado normal É trocar o mal pelo bem e o bem pelo mal Não é um fado normal
Vou por lugares nunca dantes visitados E há que ter alguns cuidados Porque bússola não há E baralham-se os sentidos Se andamos ao Deus, dará Sem sentinelas nos olhos Vou confiar no ouvido E nada vai estar perdido
Mas se isto é fado Vou entristecer o quadro P'ra tom de cinza acordado Que eu não quero exagerar; No meio do nevoeiro Teimo em ver o teu olhar Que sei não ser derradeiro Alguma coisa se solta Que talvez não tenha volta